Distrito de Padre João Afonso, no Município de Itamarandiba, comemora mais uma aprovação no vestibular em Medicina

Mar 10, 2020 Escrito por 
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O ano começou com uma ótima notícia que encheu de orgulho toda a comunidade escolar da E.E.Padre João Afonso, que enxerga na universidade mais uma possibilidade de emancipação para os sujeitos do campo. A escola trabalha sob a perspectiva da Educação do Campo e tem como princípio a valoração dos povos do campo e de seus saberes, não negligenciando os saberes científicos e globais, mas partindo do local e de tudo o que se pode aprender no meio onde se vive, para compreender o contexto socioambiental como um todo.

A escola procura adequar as propostas curriculares à realidade dos estudantes e incentiva o acesso à universidade ou a permanência no campo, mas em ambas, enfatiza a necessidade de darem o melhor de si.

No início deste ano escola comemorou a nota excelente no ENEM do estudante Arison Danilo Ferreira Ribeiro, que concluiu o Ensino Médio em 2019. E mais ainda o fato de que ele foi aprovado para cursar Medicina na Universidade Federal de Alfenas - UNIFAL, no sul de Minas, onde ele já se encontra matriculado e cursando o primeiro período. A escola salienta que o estudante sempre se destacou por ser responsável, estudioso e muito determinado. Dono de um bom humor contagiante, quem via o Danilo sempre sorrindo nas aulas, nem imaginava o quanto estava estudando durante todo o período, inclusive nos finais de semana. Sua irmã Natália Ribeiro, professora na escola, relata que ele estabeleceu metas de estudo para todos os dias da semana e renunciou a festinhas, companhia de amigos e familiares, sempre centrado em seus objetivos de estudo.

E ainda assim, os professores comentam que cumpria as tarefas da escola com precisão e dedicação. Seu irmão Jessé Ribeiro, habilitado em Educação Física, fala com orgulho da aprovação e diz da consciência que a família tem do desafio que é, e que estão orgulhosos do esforço do irmão, sabem o quanto ele se esforçou e merece essa oportunidade única. O próprio Danilo menciona a surpresa dos colegas de classe quando ele diz ser filho de lavradores. Alguns perguntam se ele é filho de médico ou médica e ele diz com muito orgulho das suas origens e da sua história. Ele conta que se preparou para tirar nota boa na redação do ENEM, ao descobrir um site (Imaginie Redações) que fazia correção de redações com base nas competências do ENEM. Isso já pro final, porque antes ele já estava produzindo cerca de três redações por semana, aproveitando as correções oferecidas e melhorando suas técnicas de escrita. Ele escolhia um tema, pesquisava tudo o que podia sobre, lia muito acerca do assunto e produzia seus próprios textos, o que contribuiu para que fizesse 980 pontos na redação. Ele indica pesquisar no próprio site do ENEM para se preparar melhor. A decisão por Medicina nem estava clara em sua cabeça, mas ao realizar a prova, mesmo sem saber do resultado, decidiu que realmente queria ser médico. Ele também relata que assistiu muitas videoaulas que baixava quando estava na casa de sua irmã nos dias de chuva, já que em São Miguel, comunidade onde seus pais moram, não há sinal de internet. Danilo se diz grato a cada professor que passou por sua vida. Reconhece que a escola incentiva seus estudantes e diz que, mesmo com todas as limitações da escola pública, todos dão o melhor de si. Essa fala é reforçada pelo professor Luciano Soares Pedroso, da UFVJM, que parabeniza os professores da E.E.Padre João Afonso pelo trabalho relevante que realizam.

A professora Ângela comenta que dá pra reconhecer o estudante que enxerga além do que a escola pode oferecer. Ela recorda que a estudante Mariany Lima fazia perguntas que ela não tinha condições de responder, porque era uma menina que lia muito (ainda não tinha internet) e queria saber o porquê de tudo. Já Danilo, quando a professora apresentou um livro do italiano prof. Pierluiggi Piazzi, que ensina métodos eficientes de resolução intensiva de exercícios para estudar, surpreendeu a professora baixando todos os livros da coleção e trazendo para ela em PDF. Ela lembra que a estudante Nayara do 2º ano, chegou a comprar o livro, adotando também técnicas para estudar. “Dicas são dadas o tempo inteiro, mas poucos estudantes percebem e adotam. Há aqueles que agarram as oportunidades com unhas e dentes. Estabelecem metas e vão atrás dos seus objetivos. Precisa se dedicar, pois nada é de graça na vida.”, completa a professora.

A aprovação de Danilo, pela nota do ENEM, os esforços dele em estudar por conta própria e o trabalho sério da equipe escolar, são motivos de orgulho para Padre João Afonso. No meio do semestre passado, formou-se em Medicina, Mariany Lima, pela Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF. A estudante cursou os primeiros anos aqui e até os anos finais do Ensino Fundamental também estudou nesta escola, sendo transferida para uma escola em Belo Horizonte, dado o seu nível de raciocínio e inteligência. Era sempre muito estudiosa e se destacava pela curiosidade aguçada e por ser dedicada.

Muitos estudantes da comunidade estão nas universidades. Formando-se para contribuírem para um mundo melhor. A escola destaca o importante papel da Universidade dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM na comunidade. Pela pedagogia da alternância, quando estudantes vão para o Tempo Universidade no período de seis semanas, em julho e em janeiro, e retornam para continuar seus estudos e desenvolver projetos na comunidade, a Licenciatura em Educação do Campo tem tornado possível, para o jovem trabalhador do campo, estar numa universidade e ter uma formação superior. Muitos professores da escola também cursaram ou cursam a LEC, fortalecendo esse diálogo e atuando em projetos de formação de graduandos da UFVJM dentro da escola.

Segundo o diretor Cristiano Fernandes, a presença da UFVJM e da LEC dentro da escola é um incentivo para que mais estudantes percebam que é possível o campesino estar na universidade, apesar de todas as limitações a que as escolas do campo estão submetidas. O trajeto por estradas de difícil acesso, a distância, a falta de recursos e investimentos na educação, não são fatores que intimidam esses jovens camponeses de correrem atrás dos seus sonhos.

 

E a escola afirma que poderia citar muitos outros nomes, motivos de orgulho, que, independente de terem ido pra faculdade ou não, independente do curso escolhido, tem traçado trajetórias brilhantes, de forma crítica e atuante onde estão inseridos, no campo ou na cidade. Reafirma a necessidade de que a educação seja priorizada pela garantia das políticas públicas específicas, sobretudo no campo, e acredita que a escola pode até não ser o melhor lugar do mundo, mas com certeza é um espaço de transformação social e possibilidade de um futuro melhor. Que nenhum jovem do campo ou da cidade sinta-se incapaz e perceba que com determinação e persistência, tudo é possível.

Por Ângela Rita Teixeira


Redação

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